Litoral do Brasil

Parte 1
Manaus e Belém

 Este roteiro de viagem não tem a pretensão de indicar hotéis, selecionar restaurantes, traçar um mapa fiel, ou qualquer coisa que normalmente se encontra em guias do tipo. A ideia é única e exclusivamente despertar o gosto e a vontade de se viajar pelo Brasil.

Uma série de fotos foram tiradas numa viagem que fiz, recentemente, pelas capitais do litoral brasileiro, começando por Manaus e terminando em São Paulo. Não incluo aqui o sul do Brasil especificamente porque simplesmente esse trecho não fez parte do roteiro, já que eu conhecia o sul do Brasil há tempos. De posse de 1200 fotos de boa qualidade, achei que seria interessante colocar aqui algumas e também impressões que valessem a pena. A intenção da viagem foi por mero prazer e com o intuito de conhecer meu país, de dimensões continentais, com um povo extremamente rico em sua cultura, nas diferentes formas de viver e de ver a vida.

Comecei por Manaus, como já disse e vim me detendo em todas as capitais e em alguns pontos turísticos indispensáveis em um roteiro de litoral. Portanto, continuei para Belém, São Luís do Maranhão e Lençóis Maranhenses (os grandes e pequenos); Ceará: Fortaleza, Jericoacoara e Canoa Quebrada; Rio Grande do Norte: Natal e Pipa; Paraíba: João Pessoa; Pernambuco: Recife e Olinda; Alagoas: Maceió; Bahia: Salvador e Porto de Galinhas; São Paulo(litoral). Foi excluída apenas Teresina, capital do Piauí, já que não fica no litoral. E de Salvador voei direto para São Paulo.

De qualquer forma, voltei de viagem com a nítida sensação de que deveria ser obrigatória, e financiada pelo governo, uma viagem pelo Brasil para todos os estudantes recém-formados no segundo-grau. É impossível amar aquilo que não se conhece. Por isso como podemos incentivar nossas  crianças e jovens a amar um país desconhecido, cuja dimensão impede qualquer aproximação entre o norte e o sul, entre o centro e o leste. Portanto, como estímulo à cidadania, todo garoto e garota, recém-formados em qualquer escola pública do país, deveria receber do governo uma passagem de ida começando por Manaus e de volta vindo de Porto Alegre, ou vice-versa, para conhecer pelo menos as capitais. Deveria conhecer as nossas maravilhas naturais, o nosso povo, as diferenças culturais, as imensas riquezas de cada Estado, enfim, conhecendo aquilo que temos e que é o nosso orgulho. Realmente o Brasil, além de belíssimo, tem uma força esmagadora, uma riqueza de fazer inveja a qualquer povo do mundo e que pouco conhecemos, gerando até mesmo um certo desprezo por aquilo que não fomos socializados a compreender.

Evidentemente que o governo poderia estabelecer parcerias com a hotelaria local, com as companhias aéreas, etc.,barateando os custos da viagem, estimulando o turismo, investindo na cultura e na educação dos nossos jovens, e criando um senso de pertencimento que não vemos mais hoje, principalmente nas grandes cidades.

Eu, apenas com uma mochila nas costas, economizando dinheiro e o meu corpo para conseguir alcançar o objetivo de viajar por todo o litoral imenso do norte e do nordeste, e um pouco de São Paulo, voltei com a nítida sensação que dois meses é nada pra se conhecer essa imensidão.

Portanto, esse roteiro de viagem é voltado principalmente pra quem não conhece o Brasil e quer conhecer um dia. Espero de coração ter contribuído pra que a sua viagem comece aqui e se realize o mais rápido possível. Boa Viagem!

 Manaus

A primeira cidade para iniciar este roteiro é Manaus. A viagem começou no avião. Manaus estava sob uma tempestade que impediu o nosso avião de descer. O comandante teve então a brilhante ideia de nos levar para um tour sobre a floresta, indicando os pontos principais de uma beleza  que jamais havia visto igual. A minha viagem começou então por uma bendita tempestade que me fez conhecer Manaus sobrevoando o encontro do Rio Solimões com o Negro, e ainda conhecendo uma boa parte da floresta. Não sabia a força, a pujança e a dimensão da floresta amazônica. Apesar de ter ido a Machu Picchu e entrado em contato com a floresta pelo lado peruano, nem de longe a floresta amazônica do lado brasileiro podia se comparar àquela que entrevi aos pés dos Andes.

Manaus é uma cidade pequena com em torno de 1 milhão de habitantes, incrustrada numa espécie de clareira em plena floresta. É portentosa e teve seus dias de glória na época do ciclo da borracha, como todos sabem. Ainda mantém intactas algumas preciosidades desse passado próspero, como o Teatro de Manaus.


Vista Externa do Teatro de Manaus

Um dos salões do Teatro

 A viagem pelo Rio Solimões e Negro, para ver o encontro das águas, para ver os botos cor-de-rosa, tomar contato um pouco com o povo, com os nativos, com os descendentes dos índios que ainda sobraram, foi  maravilhosa.

Se todos tivessem tido a oportunidade de conhecer melhor a beleza de seu patrimônio, não teria sequer um só pensamento destruidor a respeito dessas nossas terras, onde a natureza, que somos nós mesmos, cresce vigorosa e portentosa e nos supre do oxigênio necessário à nossa sobrevivência. Transformar a Amazônia em pasto, queimar a floresta, devastar terras do tamanho do Estado do Acre, invadir terras indígenas, é ter um pensamento não só destruidor, é não conhecer nada de si mesmo, da verdadeira riqueza, do nosso país, e muito menos do planeta, demonstrando uma ignorância perigosa para todos nós.

O encontro do Rio Negro com o Rio Solimões. Percebe-se a diferença de cor no encontro das águas.

Porto de Manaus

Caminho das Vitórias-Régias

As nossas Vitórias-Régias, já entrando pela floresta

Igarapés

Belém

Não esperava que Belém fosse tão linda. O imenso rio Guajará, que margeia uma boa parte da cidade, absolutamente navegável, inspira qualquer artista que se debruça sobre o belíssimo cais. A floresta está lá presente, soberba e impenetrável aos olhos dos desavisados das grandes cidades. Me senti insignificante e um sentimento de humildade respeitosa surgiu do nada, enchendo meus olhos de lágrimas que ficaram suspensas por toda a viagem que fiz de Manaus a Belém, diante da Floresta Amazônica. Pela primeira vez me dava conta que, apesar de ter já alguma idade, desconhecia completamente o meu país. Menos até que os muitos turistas, de várias partes do mundo, que me cumprimentavam pelo caminho como se dissessem “Parabéns!”

O cais sobre o Rio Guajará, que margeia a cidade

Muitos barcos, alguns destinados unicamente para os turistas, enfeitavam o cais com suas cores e seus gritos de vai zarpar!, acompanhados das músicas locais. Uma alegria pontilhada de cheiros que se alternavam entre os peixes cozidos, as inúmeras iguarias que vamos nos deparar depois no nosso almoço já dentro do barco.

O requintado restaurante das Docas.

Uma das ruas de Belém

Do outro lado do rio, um cais longe da sofisticação das Docas

O famosíssimo mercado Ver-o-Peso, é uma das atrações à parte. Nele podemos encontrar todo tipo de produtos, em geral não industrializados ou manufaturados. O que mais atrai são as inúmeras ervas medicinais, consumidas pela população, e que constituem um acervo de inestimável valor para todos nós. A sabedoria popular, aliada a centenas de anos de experimentação, oriundas da população e dos próprios índios, no tratamento de inúmeras doenças, inclusive aquelas ditas incuráveis na medicina ocidental, ainda se mantém mais ou menos intacta, para felicidade da população, pobre e rica, que precisa dela para a cura de seus males.
Uma pequena parte do mercado Ver-o-Peso

O que também me causou uma enorme surpresa foi a festa do Açaí, quase todas as manhãs quando o Açaí era colhido para a comercialização. Deu pra perceber a enorme importância do Açaí para a sustentação econômica da região.

Uma outra atração à parte é a Casa das Nove Janelas, que ficou famosa por causa da série na tv.

Na Parte 2 desses Relatos de Viagem, que vem logo a seguir, eu mostrarei a vocês um pouco de São Luís do Maranhão, cuja beleza só é sobrepujada pela riqueza cultural da região, os Lençóis Maranhenses, que é algo indescritível, pois mesmo sendo escritora me faltam palavras tamanha a beleza. Mostrarei um pouco de Jericoacoara, que é considerada a praia mais bela do mundo, e Pipa, que não fica nada a dever a Jericoacoara.

Eliane Ganem